Dias atrás um vizinho que eu nunca tinha visto pediu uma chave de fenda emprestada, desesperado. Meu marido emprestou dois jogos de chaves, pois não sabia o tamanho certo. Deu certo o que ele queria fazer e o rapaz voltou para devolver no mesmo dia.
E hoje ele veio bater na porta e nos deu esse pedaço de bolo de cenoura como agradecimento pelo empréstimo. 😋
Não precisava de nada em troca, foi normal!
Eu faço esse tipo de gesto também, então simpatizo com gente que agradece assim, ainda que seja por uma coisa pequena. Tem um sinal de humanidade. Talvez tenha um resquício de uma cultura mais antiga, quando o mundo tinha outro ritmo, quando as palavras e gestos tinham outro valor. Aprendi com minha avó Else, e pratico sempre que dá. Minha amiga síria era assim também. Sempre que eu mandava um pote ou sacola com alguma coisinha, ela devolvia o pote cheio de comidas árabes maravilhosas. Minha sogra também é assim. Tem um casal aposentado franco-alemão muito próximos que também são assim. Eu sempre estou ajudando-os com alguma coisa, e o senhorzinho sempre me prepara coisas para comer em retribuição e ainda manda para meu marido, e a senhorinha sua esposa me presenteia com coisinhas como cosmético, chá... eu gosto do mundo dos pequenos gestos, e os acho grandes, na verdade. 🌻 Que alguém fique na cozinha preparando algo para quem nem é tão próximo, ou imaginar que uma pessoa entrou em uma loja para escolher uma vela sem compostos químicos especialmente para você faz a gente sentir que a gente existe... 🥰
Não sei se estou alucinando, mas eu interpretei a volta do rapaz como uma porta aberta. Talvez tenha simpatizado conosco. Fiquei curiosa de conhecer o casal. Quando voltarmos de viagem, vou convidar o rapaz e a esposa dele para tomar um café aqui em casa e jogar conversa fora.
A solidão no exterior meio que força a gente a aproveitar cada pequena oportunidade de ter uma companhia por alguns minutos ou horinha. Na minha idade não tem expectativa de amizade, apenas o curtir o momento presente com uma boa conversa, pizza ou caminhada, como se todas as pessoas que conhecemos fossem passageiras no mesmo trem. As vezes ficam conosco por mais tempo no vagão, mas na maior parte das vezes descem na próxima estação. O importante é tentar extrair o melhor do momento quando estão sentadas ao nosso lado. 🌠
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in reply to leilia • •awwww, que fofura de gestos!! que agradável e engraçado ver como você, que não anda numa escola rodeada de centenas de pessoas diariamente, e vive (assumo eu) longe da sua "terrinha"*, encontra momentos offline de conexão e potenciais amizades com pequenos grandes gestos!! 🌺🌷🌼
desejo toda a sorte em você poder conectar-se com mais uma criaturinha linda (duas, por causa da esposa dele!) neste planeta ❤
*terrinha = em Portugal, a "terrinha" é a aldeia onde passa-se a infância e onde maior parte da família vive.
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leilia
in reply to migueli • • •@migueli
Obrigada! 🌻
Quando eu era rodeada de centenas de pessoas diariamente na escola, eu queria ficar sozinha, agora que tem centenas de fantasmas, acho que seria bom voltar para a escola 😄
(também uso "terrinha" para me referir ao lugar de origem!)
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